sexta-feira, março 02, 2007

Eu grito, tu gritas, Daniela grita, nós gritamos....

Hoje na 3ª Reunião do Colegiado de Saúde Mental do DF, do qual o CAPS ad - Adolescentro faz parte, entre as várias resoluções, foram apresentadas duas denúncias de violência à pacientes com problemas mentais. Mas, a que mais mobilizou emoções, foi Daniela relatar a situação de algumas “pessoas-bichos”, que foram condenadas ao limbo. Eles vieram da antiga Clínica Planalto e atualmente estão confinados em uma instituição de saúde mental da SES, mas não são considerados pacientes dessa, pois não têm prontuários. No entanto não podem ir nem vir, vivem uma situação de prisioneiros sem sê-los. Alguns não têm nem nomes. Não existem como pessoas, não são cidadãos. Se morrerem, nunca existiram. Ninguém sabe ninguém viu! Como não são da instituição que os abriga, os profissionais não se comprometem com eles, exceto a Daniela e as outras enfermeiras, que há 04 anos são as únicas pessoas a perceber que aqueles “animais-pessoas” têm algo de humano, apesar da relutância da SES, da Promotoria, do GDF, da Justiça e de todos nós em fazermos alguma coisa contra tanta iniqüidade.

Concordamos que não é fácil pensar como nós do Adolescentro, quando se trata de violência. Para nós, violência é qualquer relação desigual entre pessoas, na qual a parte mais forte desqualifica a outra, a trata como coisa. Nega a essa pessoa o direito de ser sujeito, pessoa, gente. É por isso que afirmamos que todo processo de exclusão começa com um ato de violência, como quando Adão foi expulso do paraíso, por ter desobedecido a seu pai.

Daniela, a “Gerreira”, mesmo correndo o risco de ser expulsa do paraíso, desobedeceu ao SILÊNCIO e gritou. No entanto, se não gritarmos juntos com Daniela, vamos acabar convencidos que Adão mereceu toda a iniqüidade cometida por seu próprio pai, e achar que o problema dessas pessoas-bichos é um problema institucional, que só se resolverá com as Residências Terapêuticas.

É por isso que eu grito, tu gritas, Daniela grita e nós gritamos.


Leia a Nota de esclarecimento

12 de abril de 2007