terça-feira, março 20, 2007

O Adolescentro também vacina

A definição do CS06 como Adolescentro, criou na mente de algumas pessoas umas dúvidas no mínimo engraçadas. Perguntar se ainda é um Centro de Saúde é a mais comum. Frequentemente recebemos solicitações de macas, mesa de exames, aparelhos odontológicos, remédios da farmácia, com a "justificativa" de que agora somos o Adolescentro. De fato, não somos mais o CS06 que éramos, somos agora um Centro de Saúde de Excelência.

Excelência na competência e na vontade de atender a comunidade adolescente e sua família, de procurar cada vez mais fazer o melhor, e acima de tudo, se sentir confirmado e realizado pelo trabalho profissional de alta qualidade efetuado.

A despeito disso, a equipe de Enfermagem Adolescentro realizou a atualização dos cartões controles de vacinana (espelho) das crianças cadastradas na nossa unidade até Setembro de 2006. Esta atualização foi realizada através de busca ativa dos pais e /ou responsáveis pelas crianças, com visita domiciliar e/ou por contato telefônico.

Este tipo de atividade já havia sido realizado anteriormente, porém não com tanto empenho da equipe. Com este diferencial foi possível atualizarmos os cartões 2003 até outro de 2006.

Dispomos hoje de 401 crianças cadastradas, destas, 340 encontrava-se em atraso e/ou com vacinação em outra unidade de saúde.

Com esta iniciativa foram atualizados 235 cartões até janeiro de 2007, correspondendo a 58%.

Parabenizamos a equipe responsável, as enfermeiras Laura Tavares Barbosa, Jumaida Mª Insaurriaga e com destaque em especial para a técnica de enfermagem Aldeny Araújo e a agente de saúde Maria Laura Lustosa, incansáveis e persistentes nessa tarefa.

Realmente não somos mais um centro de saúde, somo O CENTRO DE SAÚDE!

Laura Tavares Barbosa

domingo, março 18, 2007

Em verdade vos digo

Vamos parar de mentir sobre a Contracepção de Emergência?

Em 2003 conhecemos Regina Figueiredo que facilitava um treinamento sobre Contracepção de Emergência do NEPAIDS. Foi amor à primeira vista. Regina organizou a REDECE, nos apresentou a Angeles e fizemos uma parceria com o Pacific Institut for Women´s Health.

Dessa parceria criamos um folder sobre Contracepção de Emergência, elaboramos um Manual sobre CE e realizamos um curso. O dinheiro, infelizmente não foi suficiente para montarmos um site e disponibilizar todo o material produzido. O Bush ao assumir o governo cortou todos os subsídios para programas que divulgavam a camisinha e a CE. O estranho é que a mídia não percebe esse pacto demoníaco entre Bush, a igreja e alguns deputados alucinados, que vivem criando leis para proibir a distribuição da CE.

Apesar de toda essa iniqüidade, desde 2003 fazemos uma palestra sobre o casamento Camisinha-Contracepção de Emergência em todo atendimento BPS. E pasmem! NUNCA nenhum pai ou mãe criticou ou acho ruim nosso trabalho.

Você não tem que usar a CE, mas tem o direito de saber que ela existe, que é seguro, eficiente, NÃO É ABORTIVA e, é um direito constitucional.

De acordo com a última versão dos Critérios médicos de Elegibilidade para uso de métodos anticoncepcionais (2004) da Organização Mundial de Saúde, não há nenhuma doença ou situação que contra indique a utilização da CE. (Baixe o arquivo PDF). Desta forma não é necessário exames antes, durante nem depois de seu uso. Portanto, a consulta médica ou necessidade de orientação quanto os problemas de seu uso, não tem nada a ver com a CE, mas com a necessidade de controle do exercício da sexualidade da mulher.

Como usar?

A CE foi lançada com dois comprimidos de 0,75 miligramas de Levonorgestrel cada um. No início, era orientado tomar cada comprimido com diferença de 12 horas. Não se sabia que os efeitos colaterais não se somavam se fossem tomados juntos. Como havia a possibilidade de esquecer o segundo comprimindo, nosso folder apresentava a opção de tomar os dois juntos, por nosso publico ser de adolescentes. Hoje a orientação é dose única de 0,150 miligramas de Levonorgestrel, nosso plano B.

Tome os dois comprimidos de uma vez se forem de 0,75 mg ou um comprimindo de 0,150 mg se dose única, o mais breve possível após uma relação sexual desprotegida.

Eficiência

A CE oferece proteção de:

97% se for tomado nas primeiras 12 horas

95% se for tomado nas primeiras 24 horas

85% se for tomado nas primeiras 48 horas

56% se for tomado nas primeiras 72 horas

Até o 5º dia a CE faz diferença

A CE NÃO É ABORTIVA

Não há nenhum trabalho provando que a CE é abortiva. O inverso é verdadeiro. Inúmeros trabalhos mostram que se a mulher já estiver grávida e tomar a CE, não abortará.

No entanto a igreja parte do princípio, segundo a reportagem do Correio Brasiliense (15.03.07 pg. 41-42), que “surge uma vida duas horas após uma relação sexual”.

Se essa afirmação for verdadeiramente da igreja (Bispo Rafael Cifuentes), é no mínimo perversa por dois motivos. Apesar dos padres, pastores agirem de acordo com a fé, são pessoas no mínimo com curso superior. Qualquer pessoa com o primeiro grau sabe que a vida surgiu na face da terra uma única vez e nunca mais repetiu tamanha façanha. A vida só surge da vida. Um espermatozóide ou um óvulo são vivos. A metade das mulheres que têm relação no período fértil não engravida. A metade dos óvulos fecundados não chega ao útero, isto é, apenas 25% das relações no período fértil o ovo chega ao útero. Desses óvulos fecundados apenas 3% a 8% fazem a nidação, isto é, iniciam uma gravidez.

Desta forma, não sabemos a respeito de que vida a igreja fala. Sabemos, no entanto que para ela, o ser humano, seus fiéis, os filhos de Deus não são mais importantes que a própria igreja, feita de homens. Ela tem que manter seu poder. Antigamente a igreja queimava as pessoas em nome de Deus. Hoje, a fogueira foi substituída pela gravidez não planejada ou por uma DST, como a AIDS. Parece que não mudou muito, porque mesmo diante de tais atrocidades, vemos pessoas apoiando sem nenhuma reflexão essas atitudes perversas. A única certeza que tenho é que Deus não tem nada com isso!

Basta ler um pouco o evangelho e pensar o que diria Cristo diante dessa situação? Creio que ele repetiria, com uma pequena alteração, Matheus 25:41- 45

41. Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos;

42. Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber;

43. Sendo estrangeiro, não me recolhestes; estando nu, não me vestistes; e enfermo, e na prisão, não me visitastes.

&&. Aos 14 anos engravidei e não me ajudastes a evitar,

&& Aos 17 contrai o vírus da AIDS, porque mentistes para mim.

44. Então eles também lhes responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, ou grávida (?) e com AIDS, e não te servimos?

45. Então lhes responderá, dizendo: Em verdade vos digo que, o que não fizerdes ao menor dos meus filhos, não fizeres a mim.

(Mateus 25 & Valdi 2003)

Valdi Craveiro Bezerra

sábado, março 17, 2007

Pílula do dia seguinte. Uma infeliz questão de gênero (1)


(E Deus) "Disse também à mulher: Multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás à luz com dores, teus desejos te impelirão para o teu marido e tu estarás sob o seu domínio." (Gêneses 3:16)

Porque continuamos chamando a Contracepção de Emergência de Pílula do dia seguinte?

No último mês vimos várias reportagens na mídia sobre a disponibilização da Contracepção de Emergência pelos Centros de Saúde da Secretaria de Saúde no DF (SES). Junto com a notícia, veio a desinformação e o preconceito. Mesmo usando as vezes o termo correto, Contracepção de Emergência (CE), imediatamente é "explicado" que é mais conhecida como pílula do dia seguinte.
O que essa expressão significa?
Significa que a mulher pode aprontar todas e no dia seguinte basta tomar uma pílula que estará zerada. Esse é o preconceito que o termo traz em suas entranhas. Em nenhum momento o termo pílula do dia seguinte educa ou informa, apenas lembra a mulher que o que ela fez foi errado.
A mulher não pode esperar o "dia seguinte" para usar a Contracepção de Emergência. Quando usado nas primeiras 12 horas após a relação sexual a proteção será de 97%. Os 3% de falha se deve ao fato de que, se a mulher tiver relação no dia que ovular, e essa probabilidade é de 3%, a CE não fará mais efeito. Assim como todos os outros contraceptivos, a CE atua impedindo o encontro do óvulo com o espermatozóide, preferencialmente, impedindo que a mulher ovule.
A grande preocupação das reportagens que usam o termo pílula do dia seguinte é deixar claro os supostos riscos (?) e a necessidade de controle do seu uso (?). Na verdade essa é uma forma disfarçada de negar a mulher o direito de exercer sua sexualidade, pois a mulher tem que PAGAR PELO PECADO DA RELAÇÃO SEXUAL com uma gravidez. Daí toda a reação contra a CE. Não esqueçamos que a mesma reação ocorreu contra o contraceptivo oral quando foi lançado na década de 60. Era coisa do demônio, e até hoje continua sendo pecado usa-lo. Para essas MESMAS pessoas é um absurdo a mulher ter uma relação sexual, e da mesma forma que o homem, não sofrer nenhuma penalidade. "Onde já se viu isso? Só pode ser o fim do mundo."
A última reportagem do Correio Brasiliense do dia 15 de março, páginas 41 e 42, sobre a disponibilização da contracepção de emergência nos Centros de Saúde do DF e inclusive pelo Adolescentro, confirma meu ponto de vista. As reportagens, como sempre, mais aterrorizam que informam. É impossível para um adolescente ler a reportagem e ficar sabendo como tomar a Contracepção de Emergência caso ocorra: (a) um acidente com a camisinha, (b) tenha uma relação desprotegida porque não planejou (64% das vezes) ou porque (c) sofreu um estupro. No entanto o adolescente fica sabendo que seu uso pode trazer sérios problemas hormonais, que é necessário uma consulta médica, para pega-lo, o adolescente deverá responder um questionário e não será necessário nem escrever o nome e que é mais, MUITO MAIS indicado no caso de estupro, e finalmente, o Remédio é polêmico.
Haja desinformações utilizando nomes de profissionais, o que dá uma conotação de verdade, inclusive o meu nome. De tudo que falei durante uma hora, foi resumido em uma frase totalmente fora de contexto, e bem idiota. "É cada vez maior o número de mães jovens no Distrito Federal, e isso gera problemas sociais, principalmente nas classes mais baixas".
É justamente o inverso. As mulheres pobres, com baixa escolaridade e excluídas são as mais prejudicadas, pois não é a gravidez não planejada que causa problemas sociais, mas justamente o inverso. As adolescentes da classe média, que têm a informação, que são filhas das pessoas que levantam as bandeiras contra a CE de forma direta ou disfarçada, utilizam a CE e engravidam bem menos, como a própria reportagem apontou: 9% no Plano Piloto e 25% na Ceilândia.
Durma com uma coisa dessas! Aliás, não durma, leia a próxima postagem.

Valdi Craveiro Bezerra

terça-feira, março 06, 2007

Bem vindos a bordo da felicidade

Hoje inicia um novo desafio para o Adolescentro. Oferecer um Treinamento em Serviço de no mínimo 360 horas para 55 profissionais. O Treinamento em Atenção Biopsicossocial ao Adolescente em Família é oferecido em várias modalidades. Todas essas participam da mesma atividade técnico-científica na terça-feira das 07 às 12 horas. Hoje apresentamos o Adolescentro - o Centro de Referência, Pesquisa, Capacitação e Atenção Biopsicossocial ao Adolescente em Família e o Programa do Treinamento em Serviço.

Até ano passado não passavam de 30 o número de profissionais em treinamento. Esse ano nós assumimos o desafio de treinar 55 profissionais, pertencentes a 13 regionais da SES e a 05 outras instituições.

O objetivo é ampliar e construir cada vez mais a rede de atenção biopsicossocial ao adolescente na SES.

Para a Secretaria de Saúde é o treinamento mais barato que existe e que dá maiores dividendos. (1) Recicla seus profissionais com recursos da própria SES sem gastar um centavo nem se preocupar com os custos do treinamento, a não ser manter o salário dos servidores quando liberados; (2) Investimento na promoção pessoal desses servidores tornando-os mais felizes e realizados profissionalmente; (3) Amplia a rede de atenção ao adolescente oferecendo um serviço de ponta e de alta qualidade para a população; (4) Dá uma resposta a pressão da justiça em garantir o atendimento à população adolescente com problemas de drogas; (5) Contabiliza 17 serviços criados e montados a partir do Treinamento em Serviço oferecido pelo Adolescentro, os quais todos os anos se encontram para discutir e trocar experiência para a promover da autonomia de cada um.

No entanto, a própria SES, principalmente seus gestores, desconhecem tudo isso. Afirmamos isso porque nós do Adolescentro, apesar de enaltecendo o nome da SES com esse treinamento, sofremos todos os anos com atitudes equivocadas, de pessoas cujo cargo lhes dá o poder de trabalhar contra a população e contra os objetivos da SES sem serem questionados.

Mesmo assim continuamos a fazer o que achamos que é o certo. Independente da prepotência de pessoas que utilizam seus cargos como estivessem pilotando a cozinha de suas casas, vamos continuar lutando para a expansão da rede de atenção biopsicossocial ao adolescente em família na rede de saúde da SES. Essas pessoas não precisam estudar, ensinar, crescer, criar serviços, se comprometer ou promover cada vez mais a saúde da população. Elas são assim mesmo, infelizes.


Hoje, diante de tantos objetivos do treinamento 2007, nos perguntaram qual seria o objetivo mais importante. Quanto a isso não temos dúvidas.





Aprender a ser mais felizes sendo quem somos: Profissionais guerreiros contra toda iniqüidade.



segunda-feira, março 05, 2007

Amanhã vai ser outro dia.

Amanhã começa nossa aventura 2007

Terça-feira dia 06 de março às 07 horas, partindo do Adolescentro, começa nossa grande aventura para o encontro de cada um, com desembarque previsto para dezembro.

A aventura é segura em sua incerteza, simples na sua complexidade e apaixonante no desapego a velhas crenças. É um desafio do tamanho de cada um. No entanto, não se iludam. Nós sempre somos maiores do que pensamos ser e menores do que os outros nos avaliam.

O objetivo é claro: Atravessar o rio não importa como, vamos atravessar.

Todos nós estamos convidados a subir a bordo.

Sejam bem-vindos ao Treinamento em Serviço 2007 do Adolescentro

Equipe de Tutores do Treinamento em Serviço 2007 e Toda a família Adolescentro

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sexta-feira, março 02, 2007

Eu grito, tu gritas, Daniela grita, nós gritamos....

Hoje na 3ª Reunião do Colegiado de Saúde Mental do DF, do qual o CAPS ad - Adolescentro faz parte, entre as várias resoluções, foram apresentadas duas denúncias de violência à pacientes com problemas mentais. Mas, a que mais mobilizou emoções, foi Daniela relatar a situação de algumas “pessoas-bichos”, que foram condenadas ao limbo. Eles vieram da antiga Clínica Planalto e atualmente estão confinados em uma instituição de saúde mental da SES, mas não são considerados pacientes dessa, pois não têm prontuários. No entanto não podem ir nem vir, vivem uma situação de prisioneiros sem sê-los. Alguns não têm nem nomes. Não existem como pessoas, não são cidadãos. Se morrerem, nunca existiram. Ninguém sabe ninguém viu! Como não são da instituição que os abriga, os profissionais não se comprometem com eles, exceto a Daniela e as outras enfermeiras, que há 04 anos são as únicas pessoas a perceber que aqueles “animais-pessoas” têm algo de humano, apesar da relutância da SES, da Promotoria, do GDF, da Justiça e de todos nós em fazermos alguma coisa contra tanta iniqüidade.

Concordamos que não é fácil pensar como nós do Adolescentro, quando se trata de violência. Para nós, violência é qualquer relação desigual entre pessoas, na qual a parte mais forte desqualifica a outra, a trata como coisa. Nega a essa pessoa o direito de ser sujeito, pessoa, gente. É por isso que afirmamos que todo processo de exclusão começa com um ato de violência, como quando Adão foi expulso do paraíso, por ter desobedecido a seu pai.

Daniela, a “Gerreira”, mesmo correndo o risco de ser expulsa do paraíso, desobedeceu ao SILÊNCIO e gritou. No entanto, se não gritarmos juntos com Daniela, vamos acabar convencidos que Adão mereceu toda a iniqüidade cometida por seu próprio pai, e achar que o problema dessas pessoas-bichos é um problema institucional, que só se resolverá com as Residências Terapêuticas.

É por isso que eu grito, tu gritas, Daniela grita e nós gritamos.


Leia a Nota de esclarecimento

12 de abril de 2007