quinta-feira, outubro 26, 2006

Não me façam perguntas difíceis!

Em 1997 ao chegarmos ao Centro de Saúde 1406, por uma questão de compromisso com nossos adolescentes, decidimos que a equipe faria a marcação de consultas. Foram várias as tentativas. A primeira foi a Agenda aberta. Com duas semanas não havia mais vagas para o mês seguinte. Tivemos 68% de faltas. Os adolescentes encaminhados pela Vara da Infância e Juventude faltaram à consulta em 94,8% das marcações antecipadas. O método não foi aprovado.

A segunda experiência e utilizada até o momento, foi ter um dia fixo para marcação de consultas: toda última sexta-feira de cada mês. Até o ano 2003, não havia filas nem reclamações.
O acolhimento, que era uma entrevista e orientação para cada pessoa que procurava o Adolescentro, se estendia por toda a manhã, isto é, até às 11 horas estavam chegando pais para marcar consultas e geralmente conseguiam vagas. Os que chegavam depois das 11h e que não conseguiam vaga, perguntavam ao que tinha conseguido: “Você chegou que horas?” O pai ou mãe respondia: “Cheguei cedo, cheguei às 09 horas”. No mês seguinte, para garantir uma vaga para o filho, a mãe chegava às 7 horas. O que não conseguia ao saber do horário que o outro tinha conseguido uma vaga, planejava vir mais cedo no próximo mês.

Em um ano, o horário passou para 06 horas da manhã. No ano seguinte, 2005, o acolhimento começava com uma apresentação do que era o Adolescentro, sua filosofia de trabalho e a importância da parceria com a família no atendimento dos adolescentes. Para conseguir uma vaga era necessário chegar antes das 5 horas. Na passagem de 2005 para 2006 houve um aumento expressivo na procura por uma consulta no Adolescentro. Em março, as pessoas passaram a chegar às 19 horas do dia anterior.

Para nós da equipe do Adolescentro, isso é um tormento. Apesar da resignação das pessoas que ficam na fila sem nenhum conforto, justificarem que “vale a pena o sacrifício para conseguir uma consulta aqui no Adolescentro”, nós nos envergonhamos, porque sabemos que é direito da população e não um favor, oferecer o melhor atendimento possível a seus filhos adolescentes.

Hoje, véspera de marcação de consulta, os primeiros pacientes chegaram às 09:30 horas de quinta feira, quase 24 horas antes do início da marcação das consultas. Há quatro dias sai na CBN notícias falando da transformação do CS 06 no CAPS-Adolescentro, para atender adolescentes com vários tipos de problemas. No entanto, há uma semana o Secretário de Estado de Saúde encaminhou a solicitação de nomeação do novo gerente do CS 06 para iniciar o processo de transformação do CS 06 em CAPS-Adolescentro e até hoje não foi publicado no Diário Oficial do DF.

A divulgação da transformação para CAPS-Adolescentro fez portanto, eclodir uma situação que anteriormente já estava ficando explosiva. Uma grande demanda da comunidade para a mesma equipe de 5 profissionais com 40 horas e 2 de 12 horas. Equipe que além de atender um grande número de adolescentes e suas famílias, ainda oferece um Treinamento em Serviço que capacita profissionais da Secretaria de Estado de Saúde para atender adolescentes em outras regionais.

A demora da publicação faz com que nada mude. A gerencia não é ainda do Adolescentro, as requisições de novos profissionais não podem ser feitas, permanecendo os mesmos 7 profissionais, que certamente não darão conta do aumento da demanda. Isso faz com que fiquemos de mãos amarradas, tendo que aguentar as pressões e a possibilidade de que as pessoas que não querem nenhuma mudança, ganhem espaço e comprometam o trabalho do CAPS-Adolescentro.

As pessoas estão ligando e perguntando como será a marcação para o próximo mês e se já somos um CAPS. Para essas perguntas não temos respostas. Nós temos outras respostas. Sabemos por exemplo que a distância entre a terra e a lua são 384.00 Km e que a terra tem seu eixo de rotação inclinado com relação à perpendicular do seu plano de órbita com o ângulo de 23 graus, 26 minutos-de-arco e 21 segundos de arco (ou 2 3,4392 graus) e ele tem variado ao longo do tempo entre os valores 22,64 e 24,36 graus.

No entanto isso não nos ajuda, necessitamos urgente de decisões que visem a promoção da saúde de nossos adolescntes para podermos responder que amanhã seremos um CAPS!

Associação dos Amigos do Adolescentro

Ontem às 15:00 horas, reuniram-se no Adolescentro representantes dos pais de adolescentes atendidos em nosso Centro de Saude, com o objetivo de criar a Associação dos Amigos do Adolescentro. Estavam presentes Eunice, Flávio, Ana Célia, Claudemir , Jupira, Valdi, Vanessa e Tinna.

Toda a reunião transcorreu com um espírito de alegria e de uma certeza de que estamos fazendo o melhor e o mais importante nesse momento de nossas vidas. Foram muitas as idéias de atuação, das oficinas. Ao final do encontro estava desenhado um esboço do objetivo de nossa associação.

"A Associação dos Amigos do Adolescentro tem como objetivo criar condições para a promoção de nossos adolescentes e de suas famílias como sujeito de sua saúde, de sua história e de seus projetos de vida. "

Sentimos falta dos adolescentes nesse grupo, que tem como objetivo a criação de nossa associação. Nas próximas com certeza contaremos com os representandes de nosso objeto final de trabalho: nossos adolescentes.

segunda-feira, outubro 23, 2006

Como velhos companheiros

A situação no Centro de Saúde Nº 06 (CS 06) está chata. Chatice é a palavra que mais expressa a sensação que nos espreme nos corredores internos do Centro de Saúde. Nos corredores externos, ventilados, nos quais o público transita, a sensação é de trabalho e de renovação. Adolescentes e seus familiares continuam sendo atendidos alheios a difícil transição do CS 06 provocada pela portaria Nº 45 da Secretaria de Estado de Saúde (SES).

A demora da publicação no Diário Oficial do DF da nomeação da Gerência do Adolescentro cria uma expectativa em câmera lenta. Em câmara lenta porque tudo está esperando essa publicação. As mudanças necessárias para o CS 06 tomar a cara do Adolescentro já estão “na ponta da língua”. Todos os comprometidos e aqueles que estão se comprometendo com o atendimento ao adolescente e sua família, por coincidência ou conhecimento, apontam as mesmas mudanças necessárias. Estamos falando a mesma língua, “a língua dos anjos”.

Todas as mudanças têm como objetivo fortalecer os profissionais, construir com os usuários melhores condições de trabalho e satisfação na promoção da saúde de nossos adolescentes. É por isso que, mesmo com a demora das definições, continuamos a trabalhar. No entanto o que mais nos dá alegria é ver principalmente as Auxiliares de Enfermagem se entrosarem ativamente com a equipe do Adolescentro como velhos companheiros.

Nós da EquipeNúcleo do Adolescentro temos muito orgulho das Auxiliares de Enfermagem quando o assunto é trabalho e dedicação, apesar de faltar-lhes reconhecimento. Nos últimos Treinamentos em Serviço do Adolescentro, os profissionais que mais se destacaram e se comprometeram com a ampliação de novos serviços de atenção ao adolescente na SES foram as Auxiliares de Enfermagem. No CS 06, hoje Adolescentro, não foge a regra. Em nossa equipe temos a “Tinna” que como um pivô ágil e com visão de todo o jogo, articula o atendimento clínico com maestria e dedicação.

Tudo bem que a mudança está lenta e chata, mas tem suas compensações. A maior delas foi receber o apoio na forma de trabalho e dedicação das fabulosas Auxiliares de Enfermagem do CS 06. A integração com a equipe do adolescentro foi de forma tão natural e amistosa, que nos dá aquela sensação de velhos companheiros, tudo isso devido ao carinho, ao profissionalismo e competência das mesmas.

Apesar da posição hierárquica, quem está fazendo a diferença nessa transição são as auxiliares.

Bravo!

sexta-feira, outubro 20, 2006

O CAPS ad – ADOLESCENTRO não pode ter morte prematura

Brasília 18 de outubro de 2006

Caro parceiro do ADOLESCENTRO

Há 24 anos começou nossa história. O Setor de Adolescentes da Unidade de Pediatria do Hospital de Base era criado, como parte de um projeto de múltiplas especialidades pediátricas. Apesar de ter compartilhado todas as dificuldades comuns ao país, ao DF e a Secretaria de Estado de Saúde (SES), a nossa história é de um constante crescimento e de sucesso.

Já fomos uma equipe de uma pessoa e hoje somos uma equipe de nove profissionais: 3 pediatras-hebiatras, 1 ginecologista infanto-puberal, 2 psicólogas, 1 assistente social, 1 auxiliar de enfermagem e 1 auxiliar serviço social. O desejo e determinação de sermos uma equipe multiprofissional e interdisciplinar, garantiu nossa existência como equipe de fato.

Assumindo desde o início uma abordagem sistêmico-complexa como forma de viabilizar nossa determinação, essa equipe de profissionais se auto-intitulou de ADOLESCENTRO, O Centro de Referência, Pesquisa, Capacitação e Atenção à Adolescência. Esse título pomposo e pretensioso é confirmado e reconhecido por toda nossa clientela e pelas instituições que demandam nossos serviços, pela qualidade, persistência e seriedade do nosso trabalho.

O objetivo do ADOLESCENTRO é a promoção do adolescente como sujeito de sua história de vida, de sua saúde, de sua autonomia. Atendemos adolescentes do DF e entorno de 10 a 19 anos, em sua grande maioria com condições sócio-econômica desprivilegiada, em uma abordagem biopsicossocial na qual a família está incluída como parceira e cliente no atendimento.

Além do atendimento clínico ao adolescente, oferecemos atendimento especializado nas áreas de violência, uso de drogas, transtornos que dificultam a aprendizagem, comportamentos disruptivos e problemas familiares, visando o atendimento do adolescente como um todo em sua integralidade. Várias instituições como a Vara da Infância e Juventude, Conselhos Tutelares, Promotoria, DEAM, DPCA e Casa Abrigo, nos encaminham adolescentes devido a complexidade de seus casos, os quais não encontram, além do ADOLESCENTRO, outra referência que respondam as suas necessidades.

Embora uma parte de nossa clientela seja encaminhada por essas instituições, seu maior contingente deve-se a procura espontânea pela comunidade, devido a divulgação por nossos adolescentes e famílias. São em média 750 atendimentos por mês, entre adolescentes e familiares, nas modalidades de atendimento individual e de grupos terapêuticos vivenciais.

As atividades clínicas, de promoção e de prevenção formam uma unidade indissociável na nossa maneira de enfrentarmos os problemas que ameaçam a saúde do adolescente e de sua família. A metodologia desenvolvida e utilizada pelo ADOLESCENTRO consiste na construção de relações amorosas na família e nas relações inter-pessoais. Assim, atua-se na prevenção da violência, do uso prejudicial de drogas, das DST e da gravidez não planejada.

Além dessas atividades, o ADOLESCENTRO oferece, anualmente, o Treinamento em Serviço para 35 profissionais da SES, de outros órgãos do GDF e do entorno, os quais formam a rede de atenção ao adolescente em toda a região. Essa capacitação tem uma carga horária mínima de 360 horas, e como resultado dessa atividade, a criação de 15 núcleos de atenção biopsicossocial ao adolescente em família na rede de serviços da SES. De 1999 a 2005 foram capacitados 85 profissionais de medicina, enfermagem, psicologia, serviço social, educação e auxiliares de nível médio. No ano de 2006 estão sendo formados 35 profissionais provenientes da Secretaria de Ação Social, do Conselho Tutelar, do Programa Família Saudável, da Polícia Militar, da Casa Abrigo, além dos profissionais da SES.

Somos uma equipe de profissionais determinados, que realiza um trabalho de alta qualidade, e não mede esforços nem depende de condições ideais para realizar o trabalho que acreditamos necessário. Buscamos durante todo tempo parcerias e convênios para a realização de nossos projetos. Apesar de todo nosso esforço e empenho, existiam questões legais e práticas que dificultavam certas ações, tais como a realização de parcerias e convênios, que são relações estabelecidas entre instituições e não entre instituições e pessoas, como acontecia com o ‘ADOLESCENTRO’.

Até o dia 22 de setembro de 2006 essa valorosa equipe ocupava as dependências do Centro de Saúde de Brasília Nº 1406, situado na Via L2 Sul na Quadra 605. O espaço terapêutico era formado por um salão de vivência, três consultórios, uma sala de secretaria e a área externa do CS onde também realizávamos vivências. Nesse dia, no seu 24º aniversário, o ADOLESCENTRO e toda a comunidade adolescente e seus familiares, receberam um grande presente, a portaria Nº 47 de 26 de setembro de 2006. Finalmente, após oito anos de negociações, tentativas e esperas, o Secretário de Estado de Saúde (SES), Sr. José Geraldo Maciel, atendendo o disposto no Decreto Nº 19.620, de 23 de setembro de 1998, definiu a finalidade e operacionalização do Adolescentro, ratificando a transformação do CS1406 em ADOLESCENTRO. A partir dessa data o ADOLESCENTRO passou a ser todo o Centro de saúde.

Apesar do grande feito da atual gestão da SES, a mudança política que ocorrerá na passagem do ano, além de anunciar novas esperanças é também prelúdio de sérias apreensões. Enquanto nossa equipe assume os objetivos da SES, que é garantir o melhor atendimento e promoção da saúde integral à comunidade atendida por nós, há grupos que não concordam com esses objetivos.

Após a publicação da Portaria Nº 47, quase todos os profissionais do CS1406 nos apoiaram e elogiaram a medida. Os profissionais que não se identificaram com o atendimento voltado para o adolescente, colaboraram solicitando a transferência para outras unidades da Regional Sul, para dar continuidade aos projetos que vinham desenvolvendo no CS1406. Essa atitude generosa e ética desses profissionais está proporcionando a transição mais tranqüila, de finalidades de uma unidade de saúde, que a SES já realizou. No entanto, estamos sofrendo constantemente ameaças de um retrocesso total na mudança de governo. Apesar da importância do CAPS ad –ADOLESCENTRO para toda a comunidade do DF e entorno, há um pequeno grupo de pessoas determinadas a usar todas as influências políticas possíveis com o novo governo, para tornar o ADOLESCENTRO no que era antes, um Centro de Saúde que atendia apenas 14% de sua área de abrangência. Um serviço para poucos diante de tantas necessidades de nossos jovens.

Acreditamos na importância do CAPS ad –ADOLESCENTRO para qualquer partido político ou governo. Acreditamos que todo governante e sua equipe tem como meta o bem de seu povo. No entanto, não podemos deixar de considerar que, não são apenas as necessidades que orientam os feitos de nossos governantes, mas soma-se a isso todas as pressões políticas e os interesses pessoais de alguns.

Por isso, certos de que podemos contar com nossos parceiros, solicitamos, dentro de suas possibilidades, o apoio formal junto ao governo de transição, para dar continuidade e continuarmos ampliando e multiplicando os trabalhos do ADOLESCENTRO, agora um CAPS ad –ADOLESCENTRO.

Atenciosamente.

Equipe do ADOLESCENTRO

segunda-feira, outubro 16, 2006

Mudanças, medos e ganhos

Hoje havia uma espectativa que começariam as mudanças no Centro de Saúde Nº 06 em direção ao ADOLESCENTRO. Estas mudanças eram esperadas ansiosamente com o retorno da gerente. Aconteceria uma avaliação da situação e algumas decisões necessárias seriam tomadas. No entanto, não houve manifestação da gerencia nem dos superiores a respeito das mudanças.

O clima ficou estranho. As paredes sussurravam "contradições par
adoxais". Para os otimistas, as mudanças estavam em processo, para os outros, nada iria mudar até o final do ano, quando aí sim, com certeza, tudo voltaria a ser o que era.

Mudanças são sempre ansiosamente esperadas e desesperadamente temidas. Mudar é muito arriscado, é ficar diante do desconhecido, é perder o controle da situação. Isso nos assusta muito. A primeira reação que nos ocorre é ficar na retranca.

O medo de perder o controle é o mesmo medo de recusar a falar sobre uma perda, por ter medo de sofrer. Na verdade a pessoa já está sofrendo há muito tempo. Falar a respeito da perda é apenas assumir que sofre.

Quanto ao medo de perder o controle, é o mesmo que assumir não ter controle das coisas. Nós participamos da construção dos acontecimentos, mas de fato, não determinamos que eles aconteçam. Então, não faz sentido ter medo de perder algo que não temos. Por isso, também não faz sentido ter medo das mudanças. Elas são inexoráveis. Acontecem contra ou a favor de nossas vontades.

Bem, amanhã os otimistas e os outros poderão continuar com seus medos e ficarem em silêncio, ou poderão falar a respeito das mudanças e das perdas. Se a s
egunda opção acontecer, será um ganho!

Acho que cada um deve fazer sua parte!

domingo, outubro 15, 2006

Já era tempo...


Era antiga a idéia de divulgar as atividades do ADOLESCENTRO no seu dia-a-dia.

No seu 24º aniversário, o Secretário de Estado de Saúde Sr. José Geraldo Maciel e o Secretário Adjunto, Dr. José Rubens Iglesias, deram como presente ao ADOLESCENTRO a Portaria Nº 47 de 22 de setembro de 2006.


Foram grandes as mudanças. A primeira é que o Centro de Saúde Nº 1406 foi transformado no
ADOLESCENTRO, o Centro de Referência, Pesquisa,Capacitação e Atenção ao Adolescente em Família, da Secretaria de Estado de Saúde do Governo do Distrito Federal.

A segunda grande mudança é que, agora, não somos mais uma pequena equipe de seis profissionais. A equipe do Centro de Saúde Nº 06 é o ADOLESCENTRO. Aumentamos a capacidade de atendimento, assim como a família adolescentro.

Este blog independente surge da necessidade de promover a parceria com sua comunidade. Ele tem como compromisso manter uma comunicação constante sobre as atividades, dificuldades e sucessos do ADOLESCENTRO e estimular a construção da Página da Associação dos Amigos do Adolescentro.

Temos muito o que conversar. Esse é um começo.